FACTO 25

Estratega de créditos firmados, somente comparável, em nosso entender, com os generais vitoriosos que elevaram os mais poderosos exércitos da História, Artur Lage foi um operacional de mão cheia.

Sob o seu comando e fruto também da dedicação e competência dos seus homens, não havia fogo que resistisse. Cada directriz emanada por si - com a natural segurança que irradiava da sua forte personalidade e liderança, porque dominava, desusadamente, toda a técnica - era garantia de sucesso e o bastante. Note-se, pois, as poucas ou quase mesmo inexistentes vezes em que os Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém (BVAC) tiveram necessidade de recorrer ao apoio de corpos de bombeiros congéneres para os apoiar nos sinistros ocorridos na sua área de actuação própria.

A foto que publicamos, tirada, tanto quanto nos parece, numa fase de rescaldo, apresenta-nos o Comandante Lage, de costas, envergando a sua habitual farda de trabalho, o que várias vezes testemunhámos em pleno teatro de operações: fato macaco, botas de borracha, cinturão de argolas com pala e machado, e bivaque.

No Verão de 1953, a 7 de Agosto, por ocasião de um grande incêndio deflagrado na Serra da Carregueira, o "Diário de Notícias", destacava assim a acção do nosso homenageado:

"Tudo ardia - pinheiros, eucaliptos e restolho - em vasto braseiro envolvido pelo fumo. Era impossível suportar o calor. O crepitar das chamas tornava-se, de minuto a minuto, cada vez mais apavorante. Mesmo assim, os soldados, munidos de pás e ramos de árvores, lutavam desesperadamente, não para debelar o sinistro, o que se tornara impossível, mas para o limitar em certa área. 
O fogo alastrava. Do Monte dos Penedos Pardos passou ao pequeno vale e galgou o Monte Suímo, presa fácil das chamas, por ali só haver mato e restolho. Poucos minutos bastaram para que a vegetação da altura em que estivera instalado o posto de observação dos exercícios militares ficasse completamente calcinada. E o fogo prosseguia, sempre mais além, até que chegou aos pinheiros próximos do Casal do Suímo, constituído por três casas, duas de habitação e uma destinada à recolha de animais. Para evitar que as edificações fossem destruídas, os bombeiros de Agualva-Cacém, coadjuvados pelos do Orfanato de Santa Isabel (Albarraque), lutaram arduamente. Primeiro, iam batendo no mato, os homens dispostos em filas, com ramos, enquanto trabalhadores, com enxadas, limpavam o terreno vizinho das casas de mato e restolho. Mas o fogo nem mesmo assim foi detido. Prevendo essa hipótese, o comandante sr. Artur Lage tinha de prevenção dois auto-tanques, cuja água foi então utilizada. E conseguiu-se, assim, evitar que o Casal fosse destruído."

Sabe-se que, neste incêndio, intervieram 47 elementos e 4 viaturas dos BVAC.


Pesquisa/Texto: LMB