FACTO 35

COMO CONHECI O SENHOR COMANDANTE ARTUR LAGE

Quando terminei o meu SMO (Serviço Militar Obrigatório) fui surpreendido com um convite para ingressar noutra "tropa", a dos Bombeiros Voluntários.

A situação, por inesperada, levou-me a pedir alguns dias para meditação, embora desde muito garoto sonhasse com o vir a ser Bombeiro.

Passei em revista o que ouvia comentar sobre o bom nível dos Comandos dos Corpos de Bombeiros do Concelho de Sintra - S. Pedro, Sintra, Colares, Almoçageme, Agualva-Cacém, Queluz e Belas - e fiquei assustado se teria capacidade para ombrear com tal gente.

Recorri ao apoio da então Inspecção de Incêndios da Zona Sul e lá fui empossado e comecei, com muitas dúvidas e apreensões, a ocupar os meus tempos livres servindo, como Bombeiro, a comunidade onde tinha nascido.

Pouco tempo depois fui indigitado para chefiar uma delegação de S. Pedro às cerimónias, creio que do aniversário, da Associação dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém.

Nos preparativos para a deslocação o meu Ajudante de Comando, pessoa muito experimentada e de bom senso, deu-me alguns conselhos e entre eles o referente ao Comandante de Agualva-Cacém, que não era "pêra fácil", que eu reparasse como ele tinha "afinadinho" o seu Corpo de Bombeiros e que estivesse de olho bem aberto para ver como tudo funcionava.

Lá fui, diga-se de coração apertado, mas, para meu espanto, fui recebido muito gentil e simpaticamente pelo Comandante Lage, que logo me deu alguns conselhos e se pôs à disposição para ajudar a resolver algum problema que a minha situação de "maçarico" poderia originar.

Foi um dos momentos em que a solidariedade a nível dos Bombeiros me marcou e me deu forças para continuar. E já lá vão mais de sessenta anos!

Por estas atitudes é que eu trato algumas pessoas por Senhor e assim passei a fazê-lo por SENHOR COMANDANTE LAGE, quando o encontrava ou o referia.

Albergaria-a-Velha, 12 de Abril de 2018


José António da Piedade Laranjeira
Ex-2.º Comandante dos B.V. de S. Pedro de Sintra
Ex-Presidente do Serviço Nacional de Bombeiros

FACTO 34

Nunca em momento algum da sua longa e brilhante carreira, quer enquanto Bombeiro quer na qualidade de Comandante, Artur Lage abdicou das competências que lhe estavam atribuídas.

Permanentemente presente, apesar de voluntário, seguia a par e passo a vida da Associação e do Corpo de Bombeiros, de tal maneira que dispunha de dois telefones directos ligados ao quartel: um na residência e outro no estabelecimento comercial de que era proprietário (Paulino Lage & Filhos, Lda.).

Nada acontecia nos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém (BVAC) que não fosse do seu conhecimento.

Atento a todos os movimentos, tanto em situações reais como simuladas, Artur Lage fazia sempre questão de chamar a si o comandamento das operações.

Defensor acérrimo de que a importância dos BVAC, no contexto da vida local, justificava uma atitude responsável, dinâmica e integrada, soube estabelecer o melhor relacionamento com as diferentes organizações de Agualva-Cacém, designadamente, ao nível do poder autárquico, afirmando o bom nome do todo institucional.

Em 29 de Maio de 1988, objectivado por inovar a já tradicional participação do Corpo de Bombeiros nas festividades anuais da freguesia, designadas por "Maio Popular", organizou um aparatoso simulacro de acidente de viação com vítimas encarceradas, seguido de fogo real, levado a efeito na grande área descampada que então existia no Largo D. Maria II (actual Mercado Municipal e Loja do Cidadão).

As duas fotografias que apresentamos mostram o Comandante Lage no seu posto, na última das quais munido de rádio portátil a fim de comunicar com os meios de socorro e, desse modo, dar cumprimento ao plano estratégico que havia concebido.

Para quem não o conheceu, era assim o nosso homenageado: uma personalidade marcante que se impunha, naturalmente, pela sua singular aptidão, zelo e diligência.


Texto: LMB
Fotos: Colecção Hélder Martins Moura