FACTO 13

Outra data especial na carreira do nosso homenageado: 24 de Maio de 1964, dia da inauguração da 1.ª fase do novo quartel-sede dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém.

O "Jornal de Sintra" deu todo o destaque ao evento, publicando na primeira página da sua edição de 31 de Maio parte da reportagem assinada pelo director, editor e proprietário António Medina Júnior. Na introdução da mesma, acompanhada da fotografia do Comandante Artur Lage, aquela incontornável figura do jornalismo sintrense escreve, referindo-se ao "sonho dos mais dedicados e apaixonados paladinos de tão alevantada 'Causa Nacional'", que "é de inteira justiça salientar o nome de Artur Lage, nosso estimado colaborador e prestigioso 1.º comandante da Corporação". E acentua, ainda, no interior da referida edição: "(…) o apaixonado 1.º comandante da corporação, nosso prezado amigo sr. ARTUR LAGE, alma e coração profunda e apaixonadamente ligados aos bombeiros e à sua terra-mater, pelos quais se tem batido denodadamente (…)".

O desenvolvimento da reportagem consagra a transcrição do discurso proferido na oportunidade pelo Comandante Artur Lage, o qual mereceu "uma ovação clamorosa", descreve António Medina Júnior, com exactidão. Pela sua capital importância, inclusive na caracterização da personalidade em presença, aqui o reproduzimos como documento histórico e, também, exercício de memória, pois a sua leitura apela-nos à visualização de tão brilhante orador, nomeadamente em momentos festivos: figura aprumada, envergando garbosamente a farda de gala, guarnecida de merecidas medalhas (e muitas mais merecia); olhar sereno e feliz; leitura correctíssima e pausada, plenamente demonstrativa de quem bem sabia o que dizia; voz respeitada e solidária…!


Camaradas! Minhas senhoras e meus senhores:

As maiores saudações em meu nome pessoal e em nome de um punhado de homens que, servindo a humanidade sob as minhas ordens, se prezam de praticar o acto mais cristão que se pode conceber.

Desejaria possuir os dotes necessários para aqui exprimir toda a satisfação e alegria que, neste momento, me invade a alma.

Essa alegria e satisfação resultam de vários factos, que se relacionam com o acto a que acabamos de assistir, sendo os principais: aquele que me permite ver pela primeira vez na minha terra natal tão altas individualidades e verificar, muito embora seja um dever, por parte dos homens que administram o nosso País, amparar-nos, quanto mais não seja, moralmente, eles virem até junto de nós dar-nos a consoladora certeza de que não estamos trilhando caminho errado.

Começa hoje a concretizar-se um sonho que paira nos nossos cérebros há mais de vinte anos.

Nesse longo espaço de tempo, várias foram as pessoas que se esforçaram, tentando resolver este problema, que se então já era considerado necessário, o que se poderá dizer hoje, em face do desenvolvimento da localidade e da própria corporação?

Foi a actual direcção que, prosseguindo esses trabalhos, e num rasgo de verdadeira aventura, se abalançou à construção de tão valiosa obra.

Para a sua realização contribuiram decisivamente e eu peço licença para os destacar de entre tantos outros colaboradores -, o sr. Daniel Lopes, ofertante do terreno, a sra. D. Arménia Morais Pinto, que, depois de por várias vezes ter demonstrado a sua generosidade, me ofereceu 100 contos e que eu destinei à construção do quartel, e ainda o Ministério das Obras Públicas, que desde o início acarinhou a iniciativa e comparticipou na obra.

Porém, todos viram, certamente, que foi construída apenas a 1.ª fase e que esta não tem total aproveitamento sem a construção da 2.ª. Sucederia o mesmo, se tem sido feito o inverso.

Neste ponto cumpre-me esclarecer que sou eu o responsável. E é da minha responsabilidade, porque fui eu quem indicou este corpo do edifício como sendo o primeiro a construir-se, a fim de poder utilizar imediatamente a casa-escola para instrução dos bombeiros, em face do grande incremento na construção civil, sobretudo, e, na maioria com prédios entre 3 a 7 andares. O comando sente, pois, o peso da responsabilidade.

Esperamos que a segunda fase prossiga imediatamente, e estamos certos de que sendo V. Exas. testemunhas de quanto vale o esforço dos homens de boa vontade e o carinho da população por uma obra de tão grande alcance, como é a dos bombeiros voluntários, bastará, para que seja dado andamento satisfatório, quando, assuntos com a mesma relacionados, apareçam sobre as vossas secretárias.

Temos hoje à frente dos destinos da nossa corporação o sr. dr. João Martins da Fonseca, que com a sua inteligência e fino trato conquistou os nossos corações e nos dá, com o seu admirável exemplo, incitamento para prosseguirmos na missão a que nos votámos.

Oxalá que, decorrido um ano, ao comemorarmos mais um aniversário do ressurgimento nacional, possamos assistir à conclusão deste valoroso baluarte do bem e da paz, a par de tantos outros que se têm erguido no nosso querido País.

Viva Portugal!


Pesquisa, texto e foto: LMB